segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

Uma borboleta está a bater as asas em Washington


A teoria é antiga. E pode ser contrariada. Mas existe. O bater de asas de uma borboleta pode provocar um tufão no outro lado do mundo. Das muitas interpretações da Teoria do Caos, prefiro a que sublinha a imprevisibilidade das consequências de uma qualquer acção. Agrada-me porque está implícito que as consequências podem ser boas. Mas dos bons ventos que podem chegar de um bater de asas de borboleta, habitualmente, não temos notícia. Os maus ventos é que nos devem preocupar. 


Uma das vezes que uma borboleta bateu as asas em Washington deu-nos a conhecer o chamado "Eixo do Mal", formado por Iraque, Irão e Coreia do Norte. O bater de asas foi a 29 de Janeiro de 2002, durante o discurso sobre o "Estado da União". Mais tarde, Cuba, Líbia e Síria, juntaram-se ao tal "Eixo do Mal". Para Washington estes eram os países que apoiavam o terrorismo e tinham, ou tentavam obter, armas de destruição em massa. Todos sabemos o que aconteceu a seguir. Esse bater de asas prolongou-se no tempo e transformou-se na "Guerra ao Terror".

Por estes dias, já se faz sentir a brisa de um novo bater de asas de uma outra borboleta. Donald Trump assinou um decreto em que, grosso modo, durante algum tempo, não permite a entrada nos Estados Unidos da América de cidadãos de sete países de maioria muçulmana. Síria, Líbia, Sudão, Irão, Iraque, Somália e Iémen, são eles o novo "Eixo do Mal". O México, se não se cuida, ainda vai integrar a lista. 

Nas Nações Unidas, a nova embaixadora norte-americana avisou que vai anotar o nome dos países que se oponham aos Estados Unidos. Theresa May foi a Washington deixar um convite da Rainha de Inglaterra mas parece que o incómodo no Reino Unido começa a ser grande. As grandes empresas norte-americanas manifestaram-se contra a decisão que impede muçulmanos de entrarem nos Estados Unidos. Até antigos candidatos presidenciais republicanos, como foi o caso de John McCain, vieram dizer que o decreto sobre imigração ajuda mais ao recrutamento terrorista do que à segurança dos Estados Unidos da América. Da China chegou o recado: ninguém fica a ganhar com uma guerra comercial.

A borboleta que está agora a bater as asas em Washington, tal como a de 2002, não dá ouvidos a ninguém. Diga-se desde já que tem um poderoso bater de asas e muitos admiradores que apreciam o discurso, a atitude e os ventos que espalha pelo mundo. Desenganem-se os que acham que uma borboleta é apenas um pequeno insecto, de cores garridas, voo gracioso e inofensivo. Cuidado! Já houve outras borboletas que beneficiaram de uma certa tolerância quando começaram a voar e depois de ganharem velocidade e altitude só foram paradas à força.

Pinhal Novo, 30 de Janeiro de 2017-01-30
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josé manuel rosendo
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