terça-feira, 13 de outubro de 2015

Um vasto rol de comentadores políticos… (ou os democratas que não aceitam a democracia)

Não resisti, porque há muito tempo que não tínhamos um momento político tão rico e apaixonante. Chamem-me simplista (ou básico) se quiserem e se se derem ao trabalho de me chamar alguma coisa, mas tenho alguma dificuldade em entender a actualidade política. Não a política propriamente dita, mas as leituras que tantos comentadores fazem e que, por vezes, tomam elas (as leituras e os comentários) a forma de realidade que acaba por sobrepor-se e substituir a verdadeira realidade.

Temos um sistema político que desde há quatro décadas define com clareza as condições em que Portugal pode ser governado: tem de ser com um Governo que tenha o apoio de uma maioria parlamentar. Não há dúvida quanto a isto e até agora todos aceitaram o jogo. No limite, até tivemos o célebre “caso limiano” que desempatou o apoio parlamentar a um governo de António Guterres. Com o actual sistema, Portugal nunca deixou de ter Governo e, quando essa necessária maioria parlamentar deixou de existir, os governos caíram e outros lhe sucederam. Parece-me que é assim a democracia, pelo menos no sistema político português.

De facto, os resultados das eleições de 4 de Outubro colocaram-nos perante uma situação inédita, mas não é por isso que o sistema deixa de servir. O problema é que os resultados de 4 de Outubro abrem a porta a várias soluções de Governo que alguns políticos e um vasto rol de comentadores têm dificuldade em aceitar. Não porque a legalidade democrática esteja a ser violada, não porque alguém esteja a preparar um golpe palaciano, mas apenas porque uma das soluções não agrada a um vasto rol de comentadores.

Face aos resultados das eleições de 4 de Outubro, a única análise intelectualmente honesta é dizer que eles abrem portas a dois tipos de governo (até mais, mas são as possibilidades em cima da mesa): um da coligação PàF eventualmente com apoio abstencionista do PS no Parlamento; outro do PS com apoio parlamentar do BE e do PCP. Qualquer das soluções tem argumentos para defender a sua legitimidade democrática: a PàF porque venceu as eleições e é uma tradição que seja a força política mais votada a formar Governo; o PS com apoio do BE e do PCP porque se conseguirem um entendimento têm uma maioria parlamentar que sustenta um Governo. E o sistema político tem muito bem definida a arquitectura dos passos a dar para ser encontrado um Governo. Tudo claro como água.

Mas esse vasto rol de comentadores que tem dificuldade em perceber uma coisa tão simples e que é afinal a essência da democracia – aceitar o veredicto popular e as possibilidades de expressão em forma de Governo dessa decisão do povo – teima em confundir aquilo que são as regras do jogo democrático com o desejo/vontade que sentem de ver formado um determinado Governo. E é aqui chegados que os comentadores borram a pintura: em vez de fazerem análise e explicarem às pessoas as possibilidades em aberto com o resultado das eleições, exprimem desejos mascarados de inevitabilidades assentes em leituras enviesadas da realidade.

A título de exemplo, e porque é da área da direita política que surgem estas leituras mais enviesadas, ponham os olhos num país que estão sempre muito predispostos a defender: Israel. Há décadas que não há uma maioria absoluta em Israel e há décadas que as coligações, por vezes as mais inesperadas e até implausíveis, governam o país.

Por fim, deixem-se lá daqueles argumentos de que “ai, ai, ai, vem aí o comunismo”. Gente que quer ser tão “à frente” e gosta de esgrimir o argumento de que “o mundo mudou”, atirando-o à cara dos outros como se fossem analfabetos e vivessem na idade das trevas, já devia ter percebido que o mundo mudou mesmo e que todas as forças políticas eleitas para o Parlamento têm o mesmo direito de participar na governação do país. Só falta mesmo acenarem com os fantasmas dos comunistas que comem criancinhas ao pequeno-almoço, o que deixaria de ser desonestidade intelectual e passaria a ser burrice, porque nessa já ninguém acredita.

Estarão a perguntar qual a solução de Governo que mais me agrada, mas a minha opinião não é relevante. O que deveria ser relevante era termos análise política mais esclarecedora e menos engajada com as forças políticas. Em resumo: precisamos de analistas verdadeiramente independentes ou então de analistas e comentadores que consigam fazer a separação entre uma verdadeira análise da realidade política e a opinião que têm sobre o que consideram melhor para o país. Misturar as coisas não é jogo limpo.


Pinhal Novo, 13 de Outubro de 2015
josé manuel rosendo

sexta-feira, 2 de outubro de 2015

Maldita MEO!


Nunca escrevi nada parecido, mas desta vez a tampa saltou. Nem um santo tem paciência para o serviço de atendimento da MEO. Foi esse péssimo serviço de atendimento, quer por telefone quer em loja, um dos principais motivos que me levou a terminar os meus contratos com a MEO. E pensava eu que estava livre da MEO. Puro engano. Depois de cobranças que a empresa fez para além do que era devido após ter terminado o contrato, agora confronto-me com a incompetência da MEO (Será? Ou apenas um estratagema para retardar reembolsos?) na hora de devolver o que foi indevidamente cobrado.

A história é simples: depois daquelas longas esperas numa loja MEO onde fiquei a saber que, afinal, havia informação sobre a rescisão do contrato que não tinha sido introduzida no sistema (isso explicava que continuassem as cobranças…), disseram-me que iria receber notas de crédito com o valor cobrado indevidamente.

De facto, recebi 3 notas de crédito (fotos). Mais uma vez, após mais de meia hora de espera, próximo da hora de fecho da loja, com apenas dois ou três clientes a aguardar atendimento, e com os funcionários agarrados ao computador (provavelmente a fecharem serviços para poderem sair à hora de fecho – e muito bem), eis que chega a minha vez e volto a ter uma surpresa: o valor que a MEO me devolvia nas 3 notas de crédito não batia certo com o valor que o sistema da MEO (ah grande sistema…) queria devolver-me. Proposta do funcionário: podia receber o valor que constava no sistema informático, fazia uma reclamação, e posteriormente receberia o resto. Justificação: à hora a que estávamos a tratar do assunto já não era possível resolver a coisa por telefone. 

Isto é: a MEO recusava devolver-me ao balcão da loja o valor que constava das notas de crédito que a mesma MEO me enviara. Gastei uma hora entre a espera e as explicações. Quer fazer a conta? Perguntou-me o funcionário quando lhe disse que estava a querer devolver-me menos dinheiro do que aquele que constava nas notas de crédito. O ar empertigado do funcionário ao fazer a pergunta era aquele de quem acreditava piamente no “Deus sistema MEO” que tinha à frente. Depois passou a uma cara de incredulidade própria de quem é enganado por algo que supostamente é infalível. Nem um santo tem paciência para aturar uma empresa assim.

Resultado: não recebi nada. O funcionário fez uma reclamação. E disse: daqui por mais ou menos dez dias entram em contacto consigo. Não acham fantástico? Eu acho. É o retrato do país: os grandes, as grandes empresas, fazem o que querem das pessoas. Reclamar? Não vale a pena: perdia mais meia hora e acabaria a receber, se recebesse, uma cartinha a dizer que a minha reclamação estava a ser analisada ou que ia ser tida em conta. Obrigado, MEO. 

Sim, eu sei, as outras são todas iguais. Mas se alguém da MEO me bater à porta juro que, no mínimo, o vou insultar. E quando telefonarem façam-no com jeitinho. Já nem quero saber do dinheiro, só quero que me deixem em paz.

Pinhal Novo, 2 de Outubro de 2015

josé manuel rosendo